sexta-feira, 10 de agosto de 2007

madeleine. a inocência

imagem de peterkelly (Canadá), noFlickr.

Diz-se que a esperança é a última a morrer. Infelizmente pode acrescentar-se que a inocência é a primeira. Neste momento creio que toda e qualquer esperança desapareceu já há muito, mesmo nos mais optimistas. A inocência, essa, já há 100 dias que morreu.
Para além de descobrir os culpados e a vítima, morta ou viva, de acusar quem quer que seja de falta de eficiência, de excesso de zelo, de incapacidade, de síndroma da perseguição, ou seja lá do que for, há um tema de reflexão que me persegue: a perda da inocência. Porque em todo este processo dramático houve um momento, um momento único, em que uma criança que acreditava nas pessoas que a rodeavam e lhes respondia com um sorriso límpido, subitamente trocou o olhar de inocência pelo olhar de puro medo. E esse é o momento em que Madeleine foi assassinada. Mesmo que tenha sobrevivido - sabe-se lá a quê e a quem - a inocência foi perdida para sempre. De uma forma brutal, violenta, inaceitável. Terá sido quando acordou e percebeu que não valia a pena gritar porque estava sozinha? Terá sido quando em vez de um gesto de carinho de alguém que conhecia recebeu o gesto de violência fatal? Terá sido quando viu nos olhos que lhe deviam ternura o frio implacável da crueldade? Não sabemos. Talvez venhamos a saber. Ou não. De qualquer forma, há coisas para as quais não existe o perdão.

1 comentário:

Ana Paula Sena disse...

Concordo em absoluto consigo, M.. O que é imperdoável e tremendamente doloroso é, sobretudo, essa antecipação extrema da perda da inocência. Para além de tudo o resto que se possa imaginar...
Também tenho essa ideia sempre presente. É difícil esquecer essa dimensão quando nos deparamos com casos como este (mas sempre, na verdade). Deveria ser um direito de todas as crianças e, por vezes, porque não?, dos adultos. O direito à inocência...