terça-feira, 23 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

a propósito de cidades: o porto nesta altura do ano

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Por muito que goste do Porto, o que é um facto, durante os restantes onze meses, se não tiver motivo para me deslocar até lá, não penso muito nisso. Às vezes há uma exposição ou uma peça de teatro que justificam a deslocação, mas é perto do Natal que me invade uma nostalgia de Porto. Mesmo com frio, que estava muito, mesmo com chuva, que não me agrada nada, o Porto apetece-me nesta altura do ano, mais do que em qualquer outra.

Em Serralves, um espantoso e imperdível Juan Muñoz justificaria, por si só, as três horas de Alfa (que, aliás, se fazem muito bem).


No Rivoli, Um Violino no Telhado, um dos melhores - se não o melhor - espectáculo com a assinatura de Filipe Lá Féria, seria também um belo argumento. Vi e gostei. E gostei de ver a sala cheia, com público de todos os géneros, a gostar do que via.

O Teatro Nacional São João surpreendeu-nos com o sarcasmo divertido de um Salão de Festas, da companhia Deschamps & Makeïeff. Também praticamente cheio - para maiores de seis anos e com muitos dessa faixa etária na plateia, apesar da noite, do frio e da chuva.

De resto, descer a Rua de Santa Catarina, tomar um café no Majestic, subir até à Batalha, ver teatros cheios (e com espectáculos!), exposições com grupos de estudantes interessados, perder-me no Bazar de Natal de Serralves, arrastar pela noite dentro conversas sem pressa com amigos, depois da sessão do teatro e dos preguinhos da Brasileira, são pequenos prazeres, momentos dos que tornam a vida uma árvore de natal em que as luzes se vão acendendo e apagando para deixarem uma sensação de calor e festa.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

estranho poder este da lembrança...

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(...) Estranho poder este da lembrança: tudo o que me ofendeu me ofende, tudo o que me sorriu sorri: mas, a um apelo de abandono, a um esquecimento «real», a bruma da distância levanta-se-me sobre tudo, acena-me à comoção que não é alegre nem triste mas apenas «comovente»...

Vergílio Ferreira - Manhã Submersa

domingo, 16 de novembro de 2008

yukio mishima

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Acabei de ler aquele que me atreverei talvez a classificar como o livro mais perfeito que li. Uma obra-prima de ourivesaria que trabalha minuciosamente as palavras, cinzelando cada uma com a perfeição de peça única; uma descida aos infernos que se faz ao longo de um fio da seda mais fina e frágil; um desafiar os limites que fere até ao âmago com a amenidade de uma brisa.
O livro é “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” e o autor é Yukio Mishima.


O meu conhecimento de Mishima era um pouco superficial. Sabia da sua história, da forma como pôs termo à vida num ritual sangrento, da sua defesa até ao limite dos ideais tradicionais japoneses, da sua intolerância perante a perda de poder do Imperador; sabia da sua obra, das hipóteses frustradas de ser vencedor do Nobel, perdido para o seu compatriota e contemporâneo Kawabata; das suas incursões no cinema e no teatro. Por me ter sido pedido que traduzisse parcialmente as cartas trocadas precisamente entre Mishima e Kawabata, para uma encenação a realizar no CCB por ocasião do Ciclo Mishima, decidi aprofundar o meu conhecimento de ambos os escritores, o que foi o abrir as portas de um mundo tão fascinante que dei por mim a acalentar o sonho de aprender japonês. Mas isso não será já certamente nesta encarnação.


“O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” tem tanto de insuportavelmente belo como de intoleravelmente perverso. A história pode contar-se de três maneiras:
Versão 1: “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” é a história de uma jovem viúva, Fusako, que se apaixona por um marinheiro, Ryuji, numa das suas licenças em terra. A paixão que os domina é toda feita de desejo, de fúria, de tempestade, da certeza de que não lhes resta mais do que duas noites. Amam-se com a urgência e a impetuosidade dos clandestinos, enquanto do lado de fora da janela o mar uiva, num grito desumano e medonho, o lamento da perda do marinheiro, conquistado pelo corpo sedutor da mulher e cego pelo desejo. Fusako tem um filho de 13 anos, Noboru, que assiste, escondido num armário, à noite de amor em que a mãe roubou o marinheiro ao mar. Para Noboru só o mar e os barcos são dignos de admiração e um marinheiro é um herói e não um homem. Ao tornar-se humano, Ryuji perde a admiração do adolescente e terá um preço muito elevado a pagar.



Versão 2: O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar é a história de um rapaz de 13 anos, Noboru, que pertence a um grupo de adolescentes, uma espécie de “sociedade secreta”. Inteligentes, excelentes alunos, esses jovens vivem obcecados pela formação de uma personalidade de homens verdadeiros, livres, incapazes da mais pequena fraqueza ou cedência. Para eles o homem mais desprezível será o pai, qualquer pai – e quanto mais compreensivo e tolerante, quanto menos arbitrário e insensível, pior. Um pai é um ser que limita os filhos ao educá-los, atrofia-os dentro de limites castradores, dá-lhes motivos para que não soltem os impulsos mais poderosos que os habitam, manieta-os com argumentos e razões. Só liberto de todos os condicionalismos, de todas as raízes e de todas as noções de bem ou de mal é que o homem pode cumprir o destino glorioso que lhe está reservado. O grupo passa os seus dias no treino da dureza, da insensibilidade e da crueldade, que leva por vezes a extremos difíceis de suportar, como no já clássico episódio do gatinho.
Noboru tem a vantagem, para o grupo, de não ter pai, portanto de estar menos limitado no cumprimento da sua missão. Contudo, Noboru tem uma mãe, Fusako, viúva, jovem e muito bela, dona de uma elegante loja de modas, e que tem como amante um marinheiro, Ryuji. A figura do marinheiro é aceite por Noboru porque é um homem sem amarras, cujo único compromisso é para com o mar e cuja única missão é ser livre. Mas Ryuji irá perder as graças do mar e, ao mesmo tempo perder as graças de Noboru, o que virá a ser fatal.




Versão 3: “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” é uma parábola sobre a história do Japão e a forma como o Imperador perdeu as graças dos que consideravam que o Japão nunca se deveria submeter ao Ocidente. O grupo de adolescentes, treinados duramente para a insensibilidade, para a crueldade, para o sacrifício e para a morte, representa os conservadores, para quem o homem livre se edifica sobre os destroços da liberdade alheia; o marinheiro é o líder, o homem forte em quem o jovem Noboru confia porque ele será sempre livre e a sua força suplantará tudo; a mãe é o poder que corrompe, a submissão ao que vem do ocidente (Fusako na sua loja de moda recebe as mais recentes novidades europeias, o que lhe permite desenvolver um negócio mais do que próspero), a força da sedução que torna Ryuji fraco, que o leva a abandonar o mar, o seu destino, para se aburguesar, casar e tornar-se – o que virá a ser fatal – um pai e, para mais, um pai compreensivo, que perdoa a transgressão de Noboru, em vez de o castigar sem piedade.
Seja qual for a história, “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” é uma novela de uma beleza asfixiante, dolorosa e profunda, como um abismo para o qual nos deixamos arrastar voluntariamente, apesar de sabermos que o embate no fundo vai ser muito doloroso.
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Mishima manipula-nos com a enorme sabedoria de um mestre ou de um mago. O início da novela é um fatal canto de sereia. O encontro entre Fusako e Ryuji, testemunhado por Noboru do seu esconderijo, através de um furo na parede, constitui das páginas mais perfeitas de toda a literatura. A envolvência da noite quente que anuncia uma tempestade de Verão, os corpos suados, o desejo violento, a luz coada, o grito do mar, o corpo deslumbrante do marinheiro contra o corpo perfeito de Fusako, a descoberta de Noboru do sexo, do desejo, do êxtase e Mishima tem o leitor na mão, rendido até ao fim, seja qual for a crueldade do prato que ele tem para lhe servir em seguida. Mas a sua sabedoria é infinita, a sensibilidade não o engana: o leitor está preso e a história vai decorrer com segurança: a mulher apaixona-se pelo marinheiro, o amante de uma noite transforma-se no apaixonado fiel, o homem de olhar carregado já é capaz de sorrir e percebemos que o seu mutismo não correspondia propriamente ao enigma de um segredo, mas que era apenas falta de conversa. O mito era, afinal, humano. Mishima é implacável: já não somos capazes de parar, embora não fosse aquilo o que queríamos ler. E enquanto procuramos ainda resistir à derrocada da imagem do marinheiro cúmplice do mar, portador de um segredo que está fora do alcance dos homens, enquanto estamos fragilizados pela perda da inocência, ele revela-nos sem piedade a receita hábil para misturar os ingredientes de que se faz a mais negra perversidade: somos levados ao seio do grupo dos companheiros de Noboru. Ainda crianças, alunos excepcionais, capazes de aparentar a inocência de anjos, eles revelam-se a própria crueldade em figura humana e nós não conseguimos desviar o olhar. A narrativa é tão precisa, tão cirúrgica ao escolher o ponto onde nos deve atingir, que estamos presos e percebemos que estamos prestes a saber de que massa são feitos os monstros.
E então sabemos que Ryuji está perdido: fraco, apaixonado, cheio de vontade de agradar à mulher que ama e de ser um bom pai para o filho dela, capaz de trocar a camisola e o casacão de marinheiro por um elegante fato europeu, esquecido dos quartos de vigia e das marés, Ryuji não se limitou a perder as graças do mar.

sábado, 1 de novembro de 2008

cineeco 2008

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Faz-se silêncio na sala. Algumas tosses. As pessoas ajeitam-se nas cadeiras. Uma tosse mais persistente. Ele aproxima-se do microfone. Está aberta a edição de 2008. Acabara de cair a noite sobre Seia. CineEco. Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente. Seia. Serra da Estrela.
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domingo, 12 de outubro de 2008

dia cinzento


Isto é um papagaio cinzento. Lê-se num site especializado que são "aves fantásticas para criar à mão. Imitam todo o tipo de som e podem falar até 200 palavras, incluindo frases completas! Primam pela sua inteligência." Como espécie não está ameaçada. Não se distingue o macho da fêmea a olho nu. Só um veterinário, através de um exame endoscópico, é que o pode fazer. Não são amistosos, antes um pouco agressivos. Em cativeiro convém não os criar juntos com outros papagaios, aqueles de plumagens exuberantes e cores de selva tropical. Eles não encaram bem esses temperamentos carnavalescos e criam mau ambiente, tentando impôr um estilo sóbrio, condizente com o "tweed" da sua roupagem.
Têm a cauda vermelha. O que os distingue de um dia cinzento, que não tem nada vermelho. Como hoje.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

rodrigo leão na abertura do cineeco

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Nunca é demais aconselhar um passeio até Seia. Desta vez para assistir à abertura do CineEco 2008 - Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela. E depois da abertura, e do Rodrigo Leão, fique para o resto: de 18 a 25 de Outubro, o Ambiente vai estar em foco. Bons filmes, debates, boa música e aquele ambiente que se poderia desejar que existisse em todo o mundo.
Não seja comodista, vá! Só tem a ganhar!
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os perigos do outono

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Turim, Outubro 2007
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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

é outono, não é? que fixe!

ilustração de Erwin Moser para livro infantil

Está calor, sol, céu azul. Condição que, há uns anos, não associaríamos a esta época do ano - salvo ao "verão de S. Martinho", claro. O outono já chegou. Quem o diz são as folhas amarelas que alcatifam os jardins e as noites já frias. Esta época está marcada, para mim, por uma frase: "leva um casaquinho, que para a noite já faz frio". E anunciava-se assim um longo cortejo de coisas de que continuo a não gostar: frio, dias mais curtos, cinzento, roupa em cima de roupa, janelas fechadas, mais roupa... O outono fez-me sempre sentir profundamente solidária com os ursos. Hibernam e pronto!

Então, há uns dois dias, vencendo a minha natural resistência, anunciei aberta a estação. Não contava, contudo, com esta oferta promocional: "a pedido de inúmeros clientes, o bom tempo prolonga-se por mais alguns dias". Sem impostos extra nem nada. Vou adiar a hora de hibernar. Mas vou levar o casaquinho, porque para a noite já faz frio.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

perguntaram-me: nunca mais postaste nada?

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Não, nunca mais postei nada. Tenho estado de preguiça. Preguiça é aquele direito inalienável a não fazer nada e não sentir qualquer tipo de remorso por isso. Preguiça é aquela sensação boa de ter um monte de coisas para fazer e fechar os olhos, deixar correr uma brisa muito leve, quase imperceptível, ouvir a vida a passar lá ao fundo, no seu histerismo cansativo, e não nos preocuparmos nada com isso. Preguiça é uma tarde de verão, quando tudo pára à nossa volta, o relógio não tic-taqueteia mais e os nosso pensamentos ficam macios e suaves. Preguiça é ler o Tom Sawyer, a Ilha do Tesouro e Jules Verne em tardes dessas e nunca mais na vida o esquecer. Preguiça é assistir a uma sessão dupla ou tripla de clássicos do cinema, num preto e branco glorioso, e só ir para a cama quando os autocarros guincham na curva da avenida de Roma. A preguiça consegue provavelmente ser um dos estados mais proveitosos para a nossa felicidade.
Pois quem me arrancou da preguiça foi a Ana Paula, com um post que me trouxe gostosamente à memória os meus preciosos dias de preguiça. Boas férias! E não se esqueçam: a preguiça só é boa porque acaba um dia.

terça-feira, 29 de julho de 2008

eu acho que foi aqui




Creio que sim, que foi aqui. Talvez nuns remotos anos 50. Ou 40. Corto Maltese, discretamente recortado na sombra, entre duas portas, fumava um cigarro e pensava se a despedida de Rick e Ilsa seria efectivamente definitiva. Não foi em Casablanca. Um avião saía das Lages e atravessava o Atlântico. A banda sonora era de Kurt Weil. Sam wasn't playing it.

domingo, 22 de junho de 2008

sábado, 21 de junho de 2008

vila boa de goiás

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Fica no Brasil, ou seja: desce-se, passa-se o Equador, e fica ali um pouco abaixo. Recomenda-se para casos de cansaço, saturação, irritação, alergia e falta de pachorra para certas pessoas, certos conceitos, certas crises e certas manias.
Aqui decorreu o 10º FICA - Festival Internacional de Cinema de Ambiente. Aqui foi assinado o protocolo de geminação entre Goiás e Seia (onde acontece o Cineeco, em Portugal), com base nos dois festivais.
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