sábado, 29 de dezembro de 2007

2008 o ano possível

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2008 aproxima-se. com passinhos de lã e rasto de veludo. não está frio nem chove. como vamos cantar as janeiras? como vamos esfregar as mãos e aquecê-las no bafo? lembram-se da euforia com que há um ano desejámos um feliz ano novo? e demos cabo dele nuns escassos 365 dias. é obra! com que lata vamos receber outro ano novo, se não somos capazes de o tratar decentemente? vamos continuar a desejar um 2008 fantástico? não ganhámos já vergonha?
e, apesar de tudo isso, teimo nalguns sonhos para este ano. que se aproxima com passinhos de lã e rasto de veludo, sem frio e sem chuva.

e desejo para todos um ano bom, cheio de coisas boas: amizade, trabalho, saúde, paz, harmonia, sorrisos, afectos, sol quando é tempo dele e chuva quando faz falta.

esqueçam o euromilhões, que só sai aos outros; esqueçam as lotarias milionárias que nos enchem diariamente as caixas do correio electrónico; esqueçam as vitórias (?) da selecção nacional; não se convençam de que por estarmos na "west coast" isto agora vai ser sempre a aviar. e não esqueçam a história do acordo ortográfico porque essa não dá para esquecer.

deixem de fumar; deixem de comer bolas de berlim na praia e sandes de courato à saída do futebol; emagreçam; andem duas horas a pé por dia; tenham cuidado com o colestrol, com a tensão, com o stress, com o excesso de peso, com os avc, com as viroses e as micoses. bebam água, muita água e, se ainda vos restar vontade, que o ano de 2008 seja o ano possível.

façam por o merecer, talvez ele nos retribua.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

cidades por cá: serralves


Serralves trabalhou e tem o que merece: o estatuto de lugar. Estar em Braga e dizer podíamos ir a Serralves amanhã é prova disso. Serralves respira-se. E isso sente-se assim que se olha para o logotipo. É mágico, esse logo tão simples. Traz oxigénio incluído. E arte, claro, e livros, que é arte também, e café que pode ser uma arte e silêncio e branco, que é arte em espaços despojados e lineares. O chão lá fora estava atapetado de folhas secas e a brisa rasteirinha fazia a relva tremer de frio. Mas novembro estava cálido e afavelmente preguiçoso.




Olhar faz falta. Respirar também. E é melhor começar de pequenino, enquanto é tempo. Já vai faltando o oxigénio na cidade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

este post é em especial para o intruso

"But I don't want to go among mad people," Alice remarked.
"Oh, you can't help that," said the Cat: "we're all mad here. I'm mad. You're mad."
"How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "or you wouldn't have come here."

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

cidades... por cá



Seia é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, região Centro e sub-região da Serra da Estrela, com cerca de 7.000 habitantes (aproximadamente 18.000 habitantes no seu perímetro urbano), é a segunda maior cidade do distrito da Guarda e pertence à grande área metropolitana de Viseu.

O clima do concelho é temperado, com temperaturas moderadas no verão e frio no inverno, com temperaturas muito baixas e ocorrências de neve, por vezes abundantes, nas partes mais elevadas da Serra da Estrela. Quanto ao regime de precipitações, há uma pequena estação seca, que compreende os meses de verão julho e agosto.

in Wikipédia

Entre os dias 22 e 27 de Outubro, com sol e sem frio, decorreu em Seia o 13º Festival de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

a propósito de cidades: turim

Piazza Vittorio Veneto.
"Unico in Italia e tra i più importanti al mondo, il Museo Nazionale del Cinema è ospitato all’interno della Mole Antonelliana di Torino, simbolo della città."

É bom saber que há quem se preocupe...


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

les feuilles mortes

"Le Navire Night", de Marguerite Duras, © Jean Mascolo


Outubro para mim será sempre Paris. Cá por coisas de que não me apetece agora falar. A teresamaremar tem no seu Príncipes Azuis Princesas Cor-de-Rosa um post, já com alguns dias, que me trouxe à memória Paris (é fácil trazer-me Paris à memória, especialmente em Outubro), sons de Paris, canções de Paris, imagens de Paris, cheiros de Paris. Fala ela dos partisans, mortos pela França, mortos pela Liberdade, mortos pelo direito de viver. Lembrou-me um vinyl que tive há muito, hoje perdido sei lá por onde, que tinha, na voz espantosa de Monique Morelli, o poema de Aragon, com música de Léo Ferré, que cantava esses vingt et trois étrangers et nos frères pourtant. Tenho pena que hoje já não haja tanta gente a conhecer a língua francesa, a esses peço desculpa, mas o poema aqui fica, sem tradução porque este post é sobre Paris. Fica também o famoso affiche rouge que caluniava publicamente esse grupo de resistentes.

L'Affiche Rouge

Vous n'avez réclamé ni gloire ni les larmes
Ni l'orgue ni la prière aux agonisants
Onze ans déjà que cela passe vite onze ans
Vous vous étiez servis simplement de vos armes
La mort n'éblouit pas les yeux des Partisans

Vous aviez vos portraits sur les murs de nos villes
Noirs de barbe et de nuit hirsutes menaçants
L'affiche qui semblait une tache de sang
Parce qu'à prononcer vos noms sont difficiles
Y cherchait un effet de peur sur les passants

Nul ne semblait vous voir Français de préférence
Les gens allaient sans yeux pour vous le jour durant
Mais à l'heure du couvre-feu des doigts errants
Avaient écrit sous vos photos MORTS POUR LA FRANCE
Et les mornes matins en étaient différents

Tout avait la couleur uniforme du givre
A la fin février pour vos derniers moments
Et c'est alors que l'un de vous dit calmement
Bonheur à tous Bonheur à ceux qui vont survivre
Je meurs sans haine en moi pour le peuple allemand
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Adieu la peine et le plaisir Adieu les roses
Adieu la vie adieu la lumière et le vent
Marie-toi sois heureuse et pense à moi souvent
Toi qui vas demeurer dans la beauté des choses
Quand tout sera fini plus tard en Erivan
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Un grand soleil d'hiver éclaire la colline
Que la nature est belle et que le cœur me fend
La justice viendra sur nos pas triomphants
Ma Mélinée ô mon amour mon orpheline
Et je te dis de vivre et d'avoir un enfant

Ils étaient vingt et trois quand les fusils fleurirent
Vingt et trois qui donnaient le cœur avant le temps
Vingt et trois étrangers et nos frères pourtant
Vingt et trois amoureux de vivre à en mourir
Vingt et trois qui criaient la France en s'abattant

Léo Ferré

Encontrei a versão do próprio, não a da Monique Morelli

sábado, 29 de setembro de 2007

domingo, doca de alcântara

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Não sei porquê, mas gosto. É preciso saber porquê?
E juro que não tem nada a ver com as eleições que hoje animaram (ou desanimaram, não sei) um certo partido político.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

perfeito, perfeito...

L'Invitation au voyage Henri-Émile-Benoît Matisse (Henri Matisse) - Musée d'Orsay
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L'Invitation au Voyage - Charles Baudelaire
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Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur,
D'aller là-bas vivre ensemble !
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble !
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes,

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre ;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
A l'âme en secret
Sa douce langue natale.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde ;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
- Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or ;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

está quase

Há que trabalhar, ainda que não seja por gosto, ao menos por desespero, uma vez que, bem vistas as coisas, trabalhar é menos aborrecido do que divertirmo-nos.

Charles Baudelaire

sábado, 8 de setembro de 2007

não há tempo para a preguiça

Vou mergulhar no turbilhão das águas de um trabalho que me vai dar água pela barba. Provar que se é capaz, ir mais longe, dobrar cabos das tormentas é, no fundo, o que nos faz vencer a preguiça. Contra ventos e marés. No meio de tanta água - e na esperança de não meter água - vim aqui deixar umas imagens inspiradoras para quem tem prazer em vir até aqui, preguiçar um pouco. Até 20.
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Physica animalium, século XVII

As Sereias de Ulisses -Marc Chagal

Marco Polo, Le Livre des merveilles.

Barthélemy l'Anglais

Ex-voto


Giovanni di Paolo (Siena, 1399-1482)


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

terça-feira, 4 de setembro de 2007

colecção berardo. ccb. a arte na publicidade # 2

Antes de continuarmos, a ilustração das viagens, no post anterior, é de Orlando Greenwood.

Lilian Rowls era uma das mais famosas ilustradoras de publicidade das décadas de 20 e 30 do século passado. A sua visão idílica da vida em família, da delicadeza das mulheres e do encanto das crianças deve ter ajudado a vender uma infinidade de produtos na época em que ainda não se sonhava que viriam a existir coisas como computer graphics, photoshop, e mais algumas ferramentas desta nova época da publicidade feita em cima do joelho.


Ron Raymond, nos anos 20, usava argumentos capazes de convencer qualquer mãezinha.






domingo, 2 de setembro de 2007

colecção berardo. ccb. a arte na publicidade

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Em 1930, a Underwood escrevia com os pontos nos i. Acho que hoje até podia ser útil. Uns bons pontos nos i fazem sempre falta.

Acaba-se o doce preguiçar de Agosto e começa a apetecer viajar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

há anos assim...

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Breve consideração à margem do ano assassino de 1973

Que ano mais sem critério
esse de 73
Levou para o cemitério
três Pablos de uma só vez

Três Pablões, não três pablinhos
No tempo como no espaço
Pablos de muitos caminhos:
Neruda, Casals, Picasso.

Três Pablos que se empenharam
contra o fascismo espanhol
Três Pablos que muito amaram
Três Pablos cheios de Sol.

Um trio de imensos Pablos
em gênio e demonstração
Feita de engenho, trabalho
Pincel, arco e escrita à mão.

Três publicíssimos Pablos:
Picasso, Casals, Neruda
Três Pablos de muita agenda
Três Pablos de muita ajuda.
Três líderes cuja morte
o mundo inteiro sentiu
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Oh ano triste e sem sorte
Vá pra puta que o pariu

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

a las cinco de la tarde. eran las cinco en punto de la tarde*



e estava um céu azul e a frescura atlântica cortava a ardência implacável do sol. No Forte ex-prisão de Peniche, de onde na noite de 3 de Janeiro de 1960 fugiram para a liberdade possível Álvaro Cunhal e mais 9 companheiros, crianças corriam pelas ameias, as gaivotas abriam as asas num voo sem medo e nós imaginávamos como teria sido diferente essa noite de Inverno.



Forte de Peniche. 24 de Agosto de 2007

* Federico Garcia Lorca

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

horas vivas

Este blog nasceu com um post sobre a ausência de horas no relógio do Arco da Rua Augusta (ou mais exactamente, a ausência de relógio). Um blog amigo manifestou a sua curiosidade acerca de uma lenda que se contaria sobre esse relógio. Nada consegui apurar. Agora, num comment a esse primeiro post, muito simpatica e generosamente deixado por Fernando Correia de Oliveira, uma referência incontornável, um homem que torna vivas as horas e o tempo, temos a história do relógio e o esclarecimento quanto à lenda.
Este é um post todo de preguiça feito: para ficarem a saber tudo sobre o relógio, por favor vão aos comments do primeiro post. A foto aqui acima veio de http://www.skyscrapercity.com e é da autoria de Carlos Augusto Magalhães.
E é linda a minha cidade!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

is that all?

A woman must have money and a room of her own if she is to write fiction.
Virginia Woolf, nascida a 25 de Janeiro (tal como eu) de 1882, cometeu suicídio a 28 de Março de 1941. A sua última carta, dirigida ao marido, termina com as palavras: I don't think two people could have been happier than we have been.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

giorgio di chirico

Mistério e melancolia de uma Rua (1914)

A preguiça é um pouco isto. Deixar correr as ideias e os pensamentos, uns trazidos pelos outros, ao sabor do momento. Hoje, ao ler um comentário ao post anterior, fui parar a Chirico.
É tão irreal falar em "o meu pintor preferido" como conseguir escolher os dez filmes da minha vida, os cinco livros que levaria para uma ilha deserta, as cinco séries que me mantém presa ao televisor uma noite inteira e por aí fora. Mas, fosse qual fosse a minha lista, Chirico teria sempre o primeiro lugar.
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Mistério e Melancolia de uma Rua. É a ameaça das sombras a rasgar a placidez do sol intenso, é o mistério que se sente e nunca se explica, é o perigo que ameaça sem motivo. Uma menina corre atrás do arco. Os seus pés ligeiros deixaram para trás a via férrea. Dir-se-ia que escapou ao perigo. Mas ao longe a sombra alastra pela rua, vinda da esquina para além da qual nada se consegue adivinhar. E o vagão abandonado (?), à direita? Quem disse abandonado? O vagão que aguarda? Mestre das sombras e do medo, Giorgio di Chirico.

Giorgio de Chirico nasceu em Vólos, na Grécia, em 10 de Lulho de 1888 e morreu em Roma, em 20 de Novembro de 1978, sendo considerado um pintor italiano. Fez parte do movimento chamado pintura metafísica e considerado um precursor do surrealismo (in Wikipedia)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ninguém lhos dá

Les Demoiselles d'Avignon - Pablo Picasso - 1907.

É verdade. Completam este ano 100 anos e deitam completamente por terra qualquer discussão sobre "moderno" e "antigo".

O MOMA, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, apresenta, ao lado do quadro, a breve nota informativa, que aqui reproduzimos:

Resultado de meses de preparação e revisão, este quadro revolucionou o mundo da arte quando foi pela primeira vez exposto no estúdio de Picasso. O seu tamanho monumental enfatizou ainda mais a incoerência chocante resultante da sabotagem descarada de qualquer tipo de representação convencional. Picasso foi buscar influências a fontes tão diversas como a escultura da antiga Ibéria, as máscaras tribais africanas, e a pintura de El Greco para realizar esta espantosa composição. Nos estudos preparatórios, a figura à esquerda era um marinheiro a entrar num bordel. Picasso, recusando permitir que qualquer pormenor anedóctico intreferisse com o impacto da obra, decidiu eliminá-lo na versão final. A única alusão ao bordel que permaneceu está no título: Avignon era uma rua de Barcelona famosa pelo seu bordel.

Aqui fica a chamada de atenção a assinalar a data e a homenagear o génio.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

a ver, absolutamente

e, em complemento,


Até 9 de Setembro de 2007, na Tate Modern, Londres.

Tate Modern's most enjoyable, intelligent, original and stunning exhibition since Matisse Picasso - The Financial Times


Salvador Dalí no cenário de ‘Spellbound’ (A Casa Encantada), de Alfred Hitchcock, 1945.

Desde a sua associação com Luis Buñuel como pioneiros da vanguarda do cinema, até ao seu fascínio, às amizades e às colaborações com os maiores de Hollywood, tais como Walt Disney, Cecil B DeMille, os Marx Brothers e Alfred Hitchcock, o catalão Salvador Dalí (1904–89) viveu uma intensa relação de paixão com o cinema. Estas duas exposições formam um conjunto que celebra essa relação de Dalí, apresentando não apenas a sua obra mais conhecida, como um grande número de tesouros raros que dão uma visão reveladora das suas paixões e influências. (informação Tate Modern)

Shirley Temple vista por Dalí como Esfínge carnívora, rodeada de esqueletos acabados de devorar, simbolizando o cinema americano, omnipotente e fortemente industrializado, onde Dalí tinha dificuladade em ser aceite.