quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

mudança de visual

foi só isso. mudou de cabeçalho. a preguiça não dá para mais. é uma foto de que eu gosto muito e é assinada por paul goyette.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

smoke gets in you eyes

Hoje, na farmácia, entrou um senhor. Deveria ter uns setenta anos. Diriguiu-se à empregada. "O senhor, faz favor..." Ele não hesitou, falou em voz baixa, com a determinação e a urgência de quem faz o que tem de ser feito. "Quero deixar de fumar". No mesmo tom com que poderia ter dito "quero um frasco de veneno para matar a minha mulher". A empregada, solícita, lançou-se num discurso entusiasta. "Não vale a pena - disse o senhor - dê-me lá o que é preciso, que pensar já eu pensei demais." Não havia nele satisfação, nem triunfo, nem a certeza de estar a viver o primeiro dia do resto da sua vida. Talvez fosse impressão minha, mas o que detectei foi vergonha. Vergonha, aos setenta e tal anos, de precisar de ajuda para acabar com um vício reprovável, repugnante, que o marginaliza, que o humilha.
Por mim, que nem fumo, não me faz qualquer diferença a lei do tabaco, devo confessar. Mas, tal como aquele senhor, cresci e vivi na companhia de milhões de imagens de sedução e glamour, em que o cigarro desempenhava se não o papel principal, pelo menos o de cúmplice dos principais.

Ora atentem bem e vejam se a chispa que inflama o olhar de Bogart nesta fotografia seria a mesma sem o momento íntimo, sedutor e cúmplice da chama que envolve subtilmente a ponta do cigarro?
espaço
O acto de fumar era, então, um acto social. Habituámo-nos a ver o cigarro na mão das personagens que mais admirávamos, os artistas, os intelectuais, os progressistas. Sinal de independência, de afirmação, de provocação. A imagem de Natália Correia não estaria completa sem a sua longa boquilha. Pessoa ficou para a posteridade pintado por Almada, segurando entre os dedos um cigarro. Sartre posava puxando fumaças do cachimbo. Monet era uma fumador tão convicto que pintou vários auto-retratos com cigarro. Não devem praticamente existir fotografias de Malraux sem o cigarro na boca (problema quando os correios franceses o quiseram homenagear num selo). E Che Guevara justificava a fama de um bom cubano.







Quanto a Ronald Regan, esse foi mesmo mais longe, sendo o prescritor de uma marca de cigarros, que ele afirmava oferecer aos seus amigos como presente de Natal, numa famosa campanha que correu mundo.
Aliás, no cinema, o cigarro - ou o charuto - constituiu sempre elemento para ajudar a "compôr" uma imagem e quantas vezes para a carregar de glamour e sedução.

Harpo Marx


Humphrey Bogart

Orson Welles

"There's only two things in this world that a 'real man' needs: a cup of coffee and a good smoke"
Johnny Guitar

James Dean

Roy Scheider no papel de Joe Giddeon, em All that Jazz, de Bob Fosse.

Rita Hayworth - Gilda

O que pensariam estes fumadores hoje, ao verem este anúncio, "made in Hollywood"?

Mas se o cigarro era uma boa muleta para criar uma imagem, para manter as mãos ocupadas, para compôr uma personagem (não encontrei imagens de Hitler, Salazar ou Mao Tse-tung a fumar), que não se preocupem os mais inseguros nestas matérias de imagem porque os políticos deste admirável mundo novo sem mácula e sem fumo estão a trabalhar em novas propostas para manter as mãos ocupadas e ajudar a compôr a imagem. Confiemos em que eles vão encontrar boas soluções!




E, já agora, não esqueçamos os Platters: "when a lovely flame dies, smoke gets in your eyes"

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Os meus vizinhos têm uma árvore de Natal e isto lembra-me um quadro do Edward Hopper

espaço

2008 começou e afinal já chove. talvez seja um bom sinal. 2008 vai ser um bom ano.